Antes de ganhar fama nacional em 1978, Zé Ramalho era conhecido no circuito musical de João Pessoa (PB) pelo nome artístico de Zé Ramalho da Paraíba.

Vem daí a sagacidade do título do álbum ao vivo Zé Ramalho na Paraíba (Avohai Music / Discobertas), gravado em show feito pelo artista em 26 de maio de 2018, 40 anos após a explosão nacional do cantor, no Teatro Pedra do Reino, exatamente na capital da Paraíba, João Pessoa (PB), caracterizada por Zé em cena como “a cidade da minha alegria, da minha juventude e da minha formação de arte”.

Lançado em CD duplo e em DVD, além da edição digital, Zé Ramalho na Paraíba é título que soa redundante para quem acompanha a discografia do artista. A rigor, Zé Ramalho serve mais uma vez o banquete de signos e hits da obra apocalíptica – banquete tantas vezes oferecido em discos e shows anteriores do artista.

Capa do álbum ao vivo 'Zé Ramalho na Paraíba' — Foto: Rafael Passos

Capa do álbum ao vivo ‘Zé Ramalho na Paraíba’ — Foto: Rafael Passos

Contudo, para quem degusta pela primeira vez a iguaria, o cardápio tem mais sabor. Até porque a voz cavernosa do cantor permanece em ótima forma, com viço que, somado à vivacidade do artista no palco, garante geralmente show energizante – como poderá comprovar quem assistir hoje, 2 de fevereiro, à apresentação que Ramalho fará na casa Vivo Rio, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Quem preferir ouvir o show pelo disco vai se deparar de cara com abordagem quase épica de O que é o que é (Gonzaguinha, 1982). Em vez de seguir a cadência bonita e animada desse samba, que Ramalho já gravara em álbum de 2003, o cantor ajusta a composição ao tom da própria obra em que mixa influências dos cantadores nordestinos, dos roqueiros e do folk de Bob Dylan com assinatura original.

Neste disco ao vivo, A terceira lâmina (1981) soa menos cortante no ritmo agalopado que também conduz Beira-mar (1982) no toque da Banda Z, em velocidade menor. Já Banquete dos signos (1980) ganha sons que evocam as bandas de Pífano.

Zé Ramalho ajusta samba de Gonzaguinha ao tom da própria obra — Foto: Rafael Passos / Divulgação

Seguindo roteiro que funciona como best of da obra do artista, Zé Ramalho revolve Eternas ondas (1980), revisita Vila do sossego (1978), repisa Chão de giz (1978) e emula o passo do Frevo mulher (1979).

A música mais recente deste roteiro retrospectivo é Sinônimos (Cesar Augusto, Paulo Sérgio Valle e Claudio Noam, 2004), canção lançada há 15 anos pela dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó em gravação feita com a participação de Zé Ramalho.

Sinônimos destoa da obra do compositor, mas a inclusão da música é justificada no roteiro pelo fato de a canção ter sido o último grande sucesso popular na voz do cantor. Além do mais, a canção tem apelo e jamais estraga o sabor do habitual banquete de signos e hits oferecido por Zé Ramalho na Paraíba natal. (Cotação: * * * 1/2)

*G1

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