Guitarra perde espaço com aumento do uso de elementos eletrônicos | Foto: Reprodução / Facebook / CP
CP MEMORIA
Tal cenário é confirmado se levado em conta o âmbito regional. Gerente da unidade de Porto Alegre da Made in Brazil, uma das principais lojas de instrumentos musicais do país, Vinícius Castro diz que se mostrou surpreso quando foram divulgados os dados de declínio. “Para nós, quando saiu essa notícia, não mudou nada. Vendemos 22% a mais de guitarras em relação ao ano passado”, observa, revelando ainda que nos últimos meses se verificou um crescimento na procura por aparelhos mais caros, ao contrário de 2015 e 2016, anos apontados como mais complicados. De quebra, uma outra surpresa. Em meio à entrevista, Vinícius interrompe uma pergunta para devolver outra: “Sabe qual é hoje o meu maior concorrente na venda de guitarras? Videogames. A geração mais nova não tem muita paciência para aprender, a não ser algo que prenda muito a atenção. Temos muitos casos, principalmente em épocas como o Natal, de gente que vem aqui, olha o instrumento e até mostra interesse. Mas quando a mãe ou o pai diz que é isso ou o videogame, acaba escolhendo um Playstation 4”.
LÉO CALDAS/ DIVULGAÇÃO
Seja com vendas maiores ou menores, a questão não se prende a um possível desaparecimento de cena da guitarra, longe disso. Primeiro porque ela continua bem presente. Segundo, porque, na verdade, aqui o uso da palavra vai muito além do instrumento em si. Trata-se sim do que ele representou para toda uma cena, principalmente entre os anos 1960 e 1970. Os acordes de Hendrix, de Page e de muitos outros na época miravam muito mais do que apenas notas. Traziam consigo todo o peso de um tempo de contestação. E nesse quadro, a performance e a presença de palco eram tão importantes quanto a qualidade em si. Pete Townshend quebrando tudo após uma apresentação no Festival Monterey Pop, em 1967. Jimi Hendrix botando fogo na própria guitarra no show que veio em seguida. Por isso tanta idolatria. Acontece que, de uns anos para cá, se a qualidade dos guitarristas não caiu, o papel de ídolo e mesmo o de contestação, foi sendo ocupado por novos representantes.
Para o músico, é uma questão de tempo: “Desde que foi inventada, a guitarra elétrica de tempos em tempos sai de moda e volta. De uns anos para cá, a importância dela e do guitar hero diminuiu porque não apareceu nenhum. O que está faltando é um ícone como, por exemplo, apareceu o Slash no final dos anos 1980, início dos 1990, ou mesmo o Kurt Cobain, da maneira dele”. Ele avisa, contudo, que quem aposta na morte do rock está fadado a se enganar: “A gente precisa lembrar que a primeira gravadora que os Beatles bateram, que foi a Decca, disse não, alegando que bandas de guitarra estavam fora de moda, e aí deu no que deu, né?”. É.
FABIANO DO AMARAL
Estratégia semelhante está sendo adotada no cenário do funk e do pop nacional. Há algumas décadas, nenhum veículo era tão essencial para a divulgação de músicas do que o rádio. Hoje em dia, ainda que mantenha certa relevância, o mais importante para um artista permanecer em evidência é que ele esteja incluído nas playlists dos serviços de streaming como Spotify, Apple Music ou mesmo o YouTube. A alternativa para não ficar restrito a um gênero musical apenas então passa a ser circular por ritmos variados, usando e abusando de parcerias. E assim surgem parcerias como a funkeira Anitta e os sertanejos Matheus e Kauan, do sertanejo Wesley Safadão com o funkeiro Nego do Borel e outras do gênero. “Antigamente, tu tinhas o conceito de álbum e duas ou três músicas do disco eram escolhidas para irem às paradas. Hoje isso mudou e o que existe é o conceito do single”, observa Eloy Fritsch.