Ao seu melhor estilo, Zeca Pagodinho recebeu a reportagem em seu Bar do Zeca, na Barra da Tijuca, para falar sobre o seu novo álbum, “Mais Feliz”. De cara, levantou a mão para o garçom: “Pequeno, repõe copo e cerveja, pra começar bem a entrevista!”.

Bem à vontade, ele falou sobre seu 24º álbum solo, que a contragosto foi o primeiro a ser lançado desde 2015. “Isso aí tem que perguntar para a gravadora, antigamente a gente fazia todo ano”, disse Zeca, sem fazer muito rodeio. Um tanto avesso às plataformas digitais (“preferia quando era CD e LP”), o cantor também demonstrou contrariedade com a moda das selfies. “Um dia queriam tirar uma selfie comigo num velório, com o defunto. Pô, peraí! As pessoas perdem a noção.”

Lançado pela Universal Music, “Mais Feliz” é composto por 14 faixas, sendo três regravações e 11 músicas inéditas. O álbum estará disponível em todas as plataformas digitais e também em CD. Em São Paulo, o show de lançamento será em 7 de dezembro, no Credicard Hall.

Seu primeiro disco solo foi há 33 anos, e agora chega ao 24º álbum. Como você vê sua trajetória?

Rapaz, na realidade eu não vejo nada. Quando eu vi, eu já estava aqui. Quando eu vi, chegou. Mais do que feliz.

O novo álbum vem depois de quatro anos desde o último lançamento. Por que você ficou tanto tempo sem lançar, e por que decidiu agora?

Isso aí tem que perguntar para a gravadora. Antigamente a gente fazia todo ano, todo ano lançava um LP, todo mundo. Agora não sei o que aconteceu… A minha vontade, e a dos compositores que gravam comigo, é a de lançar sempre. Por mim, seria um por mês.

Pode-se dizer que mais uma vez o álbum é uma homenagem ao subúrbio do Rio?

É uma homenagem ao Brasil. O subúrbio está sempre presente.

São três regravações e 11 músicas inéditas. O que levou a escolher as regravações?

A gente ouve e resolve gravar. Uma foi para novela (“O Sol Nascerá”, trilha da novela Bom Sucesso), que é de Cartola e Elton Medeiros, outra é um registro que eu queria ter de Baden Powell com Vinícius (“Apelo), eu, Yamandu Costa e Hamilton de Holanda, e a outra, uma regravação (“Mais Feliz”) – eu nem sabia que era regravação, fui saber agora.

Como você vê o momento do samba no País?

No meu caso, ainda vai legal, mas tem muita gente aí fazendo coisa boa e que não acontece. Primeiro que não tem mais CD, é tudo internet, essas coisas. Quem não sabe mexer, como eu, vai passar batido. Antigamente, saía nas lojas e todo mundo saía correndo para ver as fotos, ‘olha que foto linda’, quando lançavam Beth Carvalho e Alcione… Se sabia quem tocou, quem produziu. Agora nem os carros tem mais CD.

Mas acha que as novas mídias ajudam ao menos a divulgar sua música e de outros compositores para o pessoal mais novo?

Ah, eu ainda preferia que fosse CD, LP… Era mais emocionante. A foto (no álbum) fica bacana, você sabe quem está tocando, quem está produzindo, sabe quem fez violão, quem fez cavaquinho. Eu ainda prefiro. Se voltasse o vinil, então…

Estamos conversando no seu bar, com uma cervejinha na mesa. Você continua o mesmo de sempre ou mudou muito?

Quando deixam, eu continuo o mesmo.

E quando não deixam?

Ah, tiram foto, é celular… Gosto de passear, do botequim com todo mundo, uma cerveja. Quando atravessa a rua, nego já vem ‘olha ele lá!’, já vai puxando. Aí não dá. Eu sou um ser humano, cara. Tem dia que eu briguei com a mulher, tem dia que eu estou com dor de dente. Não dá.

Não é muito fã das selfies?

Não. Um dia, queriam tirar uma selfie comigo num velório, com o defunto. Pô, peraí! As pessoas perderem a noção.

E o pessoal que fica fazendo fotos durante seu show, atrapalha? Incomoda?

Não atrapalha, mas eu acho que a gente ensaia tanto, os músicos… E os caras não estão nem aí. É uma maluquice. Tem gente filmando briga de homem batendo em mulher… Outro dia, vi de um cara matando alguém e o outro filmando. Vai aonde isso? Que maluquice é essa? Agora há pouco, passou um cara aí se filmando numa passarela. Que doidera é essa?

Nessas de todo mundo ficar filmando, você já apareceu ajudando moradores em enchentes, dando carona, ajudando necessitados. Como você vê esse tipo de divulgação?

Pra que? Eu faço isso há tantos anos, pra que filmar aquilo? Eu nem vi quem foi que filmou…

Teve uma que você estava dando carona numa moto…

Eu faço isso todo ano, não é nenhuma novidade.

Se faz todo ano, é porque não cuidam bem da cidade.

E continua a mesma coisa e vai continuar do mesmo jeito.

Como vê o momento do País?

Prefiro nem ver… Está muito difícil. Tantas crianças aí na rua. Você vai daqui pra ali na Barra e é tanta criança jogando bolinha no sinal. Criança tem que estar na escola, cara. Que futuro vai ter?

Falta vontade política?

Sempre faltou, sempre faltou. Eles é que deviam fazer esse trabalho. Eu tenho uma escola de música com 225 crianças, e ninguém me ajuda em nada lá – só a Brahma. O resto é eu, meu filho, alguns amigos. E ainda pago imposto, tá?

Tem esperança que melhore?

Esperança tem que ter sempre, não se pode perder a esperança. Vamos lutar por isso, vamos falar disso, mas que é difícil, é.

Você sempre foi muito grato à Beth Carvalho. Passados esses quatros meses que ela nos deixou, já conseguiu assimilar a morte dela?

A Beth vinha muito doente, há muito tempo. Ela estava sofrendo muito, já vinha sofrendo há 15 anos com essa doença. Estava cantando deitada, a Beth sempre foi uma pessoa muito ativa, muito ligada a tudo. Pra gente e pra ela, era doloroso. Mas a vida é assim…

Está feliz com tudo o que aconteceu na sua vida?

Tem que estar! Eu estou com 60 anos, diziam que eu não chegava a 30. Tenho dois netos, um neto e uma neta. Tá bom? Diziam que eu não chegava a 30, era muito louco.

*Terra

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