Acompanhado de seu violão, o cantor e compositor Alceu Valença é uma das atrações do Festival Mucho!, neste domingo (25), a partir das 16h. Em sua 5ª edição, que teve início na quarta-feira (21), o evento é transmitido online e tem como objetivo celebrar a atual produção artística da América Latina.

Entre debates e apresentações, o festival é gratuito e conta com nomes como Jorge Drexler, Lenine e Perotá Chingó — outras informações podem ser conferidas no site oficial. Para a sua apresentação no Mucho!, Alceu antecipa: será um show de violão.

— Na hora H vai sair. Tenho certeza que vai sair legal — diz o cantor pernambucano. — Esse festival latino-americano para mim é muito bom, pois propõe unir culturalmente a América Latina.

Alceu se reconectou ao violão durante a quarentena. Como vivia na estrada antes da pandemia — em 2020, após o Carnaval, tinha mais de 60 shows marcados para turnê no Brasil e na Europa —, a última vez que havia tido maior contato com o instrumento foi quando vivia em Paris, nos anos 1970. Isolado em um apartamento na capital francesa, ele só tinha o violão como companhia, o que resultou no disco Saudade de Pernambuco (1979).

Pouco mais de quatro décadas depois, novamente Alceu se viu confinado. Desta vez, em seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Como havia barulho de obras na vizinhança durante o dia, Alceu se recolhia para a sala à noite para tocar violão, enquanto sua esposa, Yanê, assistia a filmes e séries no quarto. Até que sua esposa o elogiou um dia.

— Entrei no quarto e minha esposa exclamou: “Tá lindo!”. Eu perguntei: “O quê? Quem?”. Pensei que fosse algum famoso que ela viu na televisão (risos). “O disco que você estava cantando. É um absurdo, parece que há três pessoas tocando”, ela explicou. Aí surgiu a ideia de gravar um álbum — lembra.https://www.youtube.com/embed/YwipzO99gVQ

Então, Alceu foi para o estúdio e gravou mais de 30 músicas, que serão distribuídas em três discos. O primeiro trabalho dessa trilogia foi lançado em março nas plataformas digitais. Intitulado Sem Pensar no Amanhã, o álbum traz 11 faixas entre releituras acústicas e intimistas — voz e violão —, além do samba inédito que dá título ao álbum. Há regravações de sucessos como La Belle de JourEstação da Luz e Táxi Lunar (composição feita em parceria com Geraldo Azevedo e Zé Ramalho), assim como frevos (Chego JáPirata José).

— Gravava uma música e vinha outra na minha cabeça. E aí eu cantava. Percebi que havia conexões cinematográficas entre essas canções. É uma doidice de cineasta — diverte-se Alceu.

DeckDisc / Reprodução
Capa do disco “Sem Pensar no Amanhã”DeckDisc / Reprodução

Segundo o músico, Sem Pensar no Amanhã segue roteiro de cinema, propondo uma viagem que a quarentena lhe impediu de realizar: é como se a câmera começasse filmando a Praia de Boa Viagem, em La Belle de Jour, para depois sobrevoar as igrejas de Olinda em Mensageira dos Anjos. Pega-se um Táxi Lunar, no trem da Estação da Luz, e celebra-se o Carnaval pernambucano e o frevo. É como se Alceu fosse um guia turístico.

Um dos próximos discos da trilogia deve se chamar Era Verão e novamente terá um roteiro cinematográfico, mas, desta vez, tendo o Rio como cenário. O outro álbum será inteiramente dedicado à sua parceria de décadas com o guitarrista Paulo Rafael, o Paulinho. Esses dois trabalhos ainda não têm data de lançamento.

Os sinais que seguem escutados

Lançada originalmente no disco Sete Desejos (1992), La Belle de Jour é a faixa de abertura de Sem Pensar no Amanhã. Inspirada em um momento em que Alceu observou uma bailarina dançando na Praia de Boa Viagem, em Recife, a música tem repercutido por causa do Big Brother Brasil 21

Executada nas festas da casa, a canção foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter no dia 6 de abril, após um VT de Juliette e Gilberto. A reação do público na rede social era de muito amor pela música de Alceu, atestada como um dos hinos do Nordeste. 

Na festa realizada na madrugada desta quinta-feira (22), Gil revelou que La Belle de Jour tem um significado profundo para ele. Ao ouvir a música, o economista pernambucano relembrou a infância conturbada e a violência doméstica que presenciava.

— Meu pai brigava muito com a minha mãe, batia nela… Eu queria muito uma solução, nem que fosse morrer, alguma coisa porque eu não aguentava mais. Então essa música é muito marcante pra mim, todas as vezes que eu me via melhor que aquele momento — relatou Gil. — Eu ouvia essa música e pensava: “Caramba! Hoje tá melhor do que ontem”. Quando eu passei na federal, me formei, entrei no mestrado, doutorado, em cada festa de comemoração eu colocava La Belle de Jour, porque hoje minha vida estava melhor do que ontem.

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Para Alceu, é difícil explicar o porquê de La Belle de Jour ter se tornado uma canção tão significativa. É uma música que virou um clássico atemporal, presente no imaginário coletivo.

— Eu diria que tudo que eu faço sai de dentro do coração, vem do lado mais fundo profundo, onde não cabe a razão. As pessoas se comovem, e com a internet todo mundo tem acesso para compartilhar essa emoção. Costumo receber muitos vídeos de crianças me vendo pela televisão e cantando La Belle de JourAnunciaçãoCoração BoboMorena Tropicana, tudo — ressalta.

Outra música bastante presente no BBB 21 é Anunciação, na versão remix de Jopin, que é presença garantida em todas as festas na casa. Nos últimos anos, a versão original (lançada em 1983, no disco Anjo Avesso) passou a ser bastante cultuada pelo público jovem-adulto — como Evidências, de Chitãozinho e Xororó, e Cheia de Manias, do Raça Negra —, reproduzida em festas, karaokês e até memes nas redes sociais.

De acordo com levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), divulgado em julho de 2020, Anunciação foi a música mais tocada de Alceu Valença nos últimos cinco anos nos principais segmentos de execução pública (rádio, sonorização ambiental, casas de festa e diversão, Carnaval, festa junina, show e música ao vivo). 

Para Alceu, a nova onda de Anunciação começou em agosto de 2016, após um vídeo viral. Um grupo de turistas tocava a música em uma rua movimentada do Leblon, no Rio, justamente na hora em que o cantor passava. Ele parou e acompanhou os músicos com sua voz. A partir daí, haveria mais vídeos virais no mesmo estilo envolvendo Alceu, nos quais ele se junta com a galera para celebrar e dar uma canja. 

— Anunciação está na igreja, está em torcida de clubes, está em tudo que é canto que a gente passa. É uma música que está sempre na minha cabeça, que tem uma magia de anunciar novos tempos. Rapaz, e esses novos tempos vão ser a degola do coronavírus, viste? Então, estamos anunciando agora que tudo vai ser melhor quando acabar essa pandemia — garante.

Anunciação

  • A torcida do Cerro Porteño, do Paraguai, adaptou a música para um canto. Torcidas brasileiras já cantavam a música também.
  • Ainda no mundo do futebol: a treinadora sueca Pia Sundhage, que comanda a Seleção Brasileira feminina, postou um vídeo tocando Anunciação ao retornar às redes sociais, em setembro de 2020, e viralizou. 
  • Ganhou versão para o público infantil do Mundo Bita.
  • De acordo com levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), divulgado em julho de 2020, Anunciação foi a música mais tocada de Alceu Valença nos últimos cinco anos nos principais segmentos de execução pública (rádio, sonorização ambiental, casas de festa e diversão, Carnaval, festa junina, show e música ao vivo).
  • A versão de Anunciação mais ouvida no Spotify está presente na coletânea 20 Grandes Sucessos, acumulando 45,5 milhões de execuções.

*GauchaZH

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