♪ MEMÓRIA – Na segunda-feira, 27 de janeiro, o músico Marlon Sette postou em rede social uma letra censurada de Tim Maia (1942 – 1998). A publicação reacendeu o debate sobre Anistia (Uma questão de amor), letra vetada em junho de 1978 pela censura vigente no Brasil dos anos 1970.
Revelado há alguns anos, quando vieram à tona documentos do Serviço de Censura de Diversões Públicas, o veto da letra de Tim é real e consta do Arquivo Nacional. Mas a música, nunca encontrada, pode ser irreal e, por isso mesmo, desconhecida.
Anistia (Uma questão de amor) gera mais uma conta para o rosário de pérolas do cantor e compositor carioca, tradutor da soul music norte-americana para o idioma musical do Brasil. A versão mais corrente é a de que Tim nunca fez a rigor uma música para essa letra, cujos versos destoam totalmente do estilo mais sucinto e informal do cancioneiro autoral do compositor.
É que, pressionado pelo executivo da WEA André Midani (1932 – 2019) para apresentar o repertório do álbum Tim Maia Disco Club, disco que marcou a estreia do artista na gravadora (através do selo Atlantic) com mix saboroso de funk e disco music, o Síndico teria escrito a toque de caixa a letra de Anistia (Uma questão de amor) com base em texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), instituição que tinha aderido à campanha pela Anistia ampla, geral e irrestrita, iniciada em 1975. A letra teria sido uma estratégia de Tim para se livrar da cobrança de Midani.
Parecer da censura sobre a música ‘Anistia (Uma questão de amor)’, de Tim Maia — Foto: Reprodução
Se a música é uma lenda, o veto da letra de fato existiu. Mas não impediu o sucesso de Tim Maia Disco Club, álbum que reconduziu o cantor às paradas nacionais com sucessos como Sossego (música desde então incorporada aos roteiros dos shows de Tim), Acenda o farol e A fim de voltar (parceria de Tim com o soulman Hyldon).
O álbum Tim Maia Disco Club passou para a história como um dos melhores discos de Tim e Anistia, a suposta música, caiu no esquecimento. Até porque, se a melodia foi realmente feita (o que parece improvável), a letra logo ficou datada quando, em 28 de agosto de 1979, o então presidente do Brasil, João Figueiredo (1918 – 1999), sancionou a Lei de Anistia, sucumbindo às pressões da sociedade para reconduzir os exilados, livres, ao Brasil.
Ficam para a posteridade o veto e a lenda da “música” censurada de Tim Maia.
*G1