Organizador de excursões, vocalista de banda cover, gosto musical passado de pai para filho. São muitas as histórias que rodeiam os seguidores de Iron Maiden, uma das mais lendárias bandas de heavy metal, que pisará pela terceira vez em Porto Alegre nesta semana.

Após lotar o Gigantinho em 1992 e em 2008, o Iron Maiden promete fazer tremer a Arena do Grêmio na próxima quarta-feira (9) com a turnê Legacy of the Beast. A banda agrupa seguidores fiéis há 40 anos, que, além da admiração inabalável pelas músicas e pelo estilo musical, perpetuam a paixão por diferentes gerações.

Em entrevista com fãs gaúchos do Iron Maiden, que contaram como a banda influenciou e até modificou suas vidas, além, claro, da expectativa para o novo show na Capital.

Esqueceram de mim

A história de Maurício Tusset seria cômica se não fosse trágica. O músico e professor de Bento Gonçalves tinha apenas 19 anos quando ganhou um ingresso para assistir ao primeiro show do Iron Maiden em Porto Alegre, em 1992. O trajeto da Serra até a Capital seria feito com um grupo, porém Maurício viveu o drama de Macaulay Culkin no filme Esqueceram de Mim.

— Eu combinei de ir com um pessoal para ir me buscar e o pessoal não foi. Fiquei esperando. Eu tinha apenas 19 anos. Até hoje, eu tenho o ingresso guardado — conta, sem guardar mágoas de quem o deixou na mão.

Helio Alexandre / Divulgação
Maurício nos vocais da Iron Troopers, banda cover do Iron MaidenHelio Alexandre / Divulgação

Sua fascinação por Iron Maiden começou no final da década de 1980 quando, ainda adolescente, foi a uma loja de discos e se apaixonou pela capa de Live After Death, álbum de 1985 gravado ao vivo. Hoje, com 41 anos, o professor conta que o disco é uma relíquia em meio aos mais de 20 LPs da banda que possui.

— Comprei o disco porque achei a capa muito bonita. O problema é que eu não tinha como escutar, não tinha aparelho para tocar vinil. Depois, convenci minha tia a comprar — relembra, rindo.

Em 1994, sua paixão virou profissão quando uns conhecidos da cidade o convidaram para cantar em uma banda. A semelhança com a voz de Bruce Dickinson o tornou vocalista  do Iron Maiden Cover. A iniciativa teve uma pausa no ano seguinte até que, em 2008, Maurício retomou o projeto com uma formação diferente, mas com a mesma pegada de levar os sucessos da banda para cidades da Serra. Todos os cinco integrantes do grupo irão para o show na Arena nesta semana.

— Se não fosse o Iron Maiden, eu não teria a carreira que tenho hoje. Devo isso a eles, e faço isso para agradecer. Nem que eu tenha que tirar dinheiro do próprio bolso, porque, às vezes, show de metal não rende muita gente — disse.

Arquivo Pessoal / Divulgação
Maurício, ao centro, com o microfone, comandando banda coverArquivo Pessoal / Divulgação

De pai para filha e amigos

A partir dos 15 anos de idade, Marcelo Pinto de Paiva, 39, não parou mais de escutar Iron Maiden. Na data comemorativa, o morador de São Sebastião do Caí ganhou um aparelho de som e o disco de vinil A Real Dead One, registro ao vivo lançado em 1993. Foi o primeiro de vários LPs e DVDs que integram sua coleção. 

Marcelo conta, com lamento, que perdeu o show da banda na Capital em 2008. Ele foi conhecer seus ídolos em 2013, no Rock in Rio.

— Em 2008, cheguei a passar na frente do Gigantinho, mas como tinha perdido os prazos de compra dos ingressos, acabei desistindo, pois a única opção eram os cambistas. Existem oportunidades que não podem ser desperdiçadas, então, a partir daquele dia, participamos de todos os shows das bandas de que gostamos, como Metallica, Judas Priest, Dream Theather, Nightwish, Helloween, Megadeth, Angra, Accept, Sepultura, Deep Purple, entre vários outras — conta.

A maior parte das peregrinações aos shows foram feitas por ele, a esposa, Michele, e o casal Ricardo Schwertner Marques e Ionara Hemes, amigos e moradores da mesma cidade. Ricardo, que já foi a três shows do Iron Maiden, relembra que transformou uma loja de discos em sua casa na época da adolescência para poder ouvir as músicas da banda.

— Eu e um vizinho fizemos amizade com o dono da loja de discos em São Luiz Gonzaga, onde passei minha infância. Todo sábado pela manhã a gente saia de casa e, às 8h em ponto, entrava na loja e o dono liberava dois pratos de vinil com fones de ouvido nos fundos da estabelecimento para a gente escutar. Ele tinha coleções completas, como a do Iron Maiden, e passávamos o dia todo lá — conta o jornalista de 42 anos.

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Marcelo, Michele, Ricardo e Ionara na Fiergs em 2016. O show era Black Sabbath, mas as camisetas eram do Iron MaidenArquivo Pessoal / Divulgação

Agora, a experiência de Marcelo será completa. Além de assistir, pela primeira vez, a um show do Iron Maiden no Rio Grande do Sul e na companhia de amigos, também levará Rafaela, sua filha de 13 anos. Os dois costumam ouvir metal juntos no carro, durante passeios.

— Tenho certeza de que ela gostará do show e torço para que expanda seu estilos musicais, há muitos outros estilos para ela conhecer além do que toca nas rádios atuais. E o melhor, com certeza, é o metal — conta, empolgado.

— Meu pai dizia que ouvir metal era coisa de guri, que quando crescesse iria passar, mas até agora não passou ainda — complementa o amigo Ricardo.

Excursões pelo metal

Fãs de metal em Carazinho não perdem nenhum show que é realizado no Brasil. A garantia vem de Carlos Schultz, que há 20 anos organiza excursões saindo da cidade do norte do Estado para qualquer ponto do Brasil.

— É para facilitar a vida de outros headbangers como eu  — resume o Schultz, de 41 anos.

Headbangers, assim são chamados os fãs de heavy metal. A expressão surgiu na virada dos anos 1960 para os 70 — referente ao hábito de balançar a cabeça na vibração do som pesado — e agrega todo uma identidade cultural em torno do gênero, com o uso de roupas pretas, jaquetas de couro, camisetas das bandas favoritas, acessórios e cabelos compridos.

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Schultz, em Curitiba, no show do Iron Maiden em 2013Arquivo Pessoal / Divulgação

A primeira vez que Schultz viu o Iron Maiden de perto foi em 1996, durante um show em São Paulo. Em 2008, a excursão organizada por ele percorreu o trajeto de 289 quilômetros entre Carazinho e a Capital para assistir ao segundo show da banda em Porto Alegre — uma viagem de cerca de quatro horas em meio à perigosa BR-386.

— São fãs que às vezes não se conhecem e se reúnem naquele dia com um propósito específico que é ver a sua banda preferida. E eu sou o elo de ligação entre todos eles — conta, orgulhoso.

Além de juntar 44 pessoas para ir até o show do Iron Maiden neste ano, Schultz já tem  caravanas planejadas para mais três shows de metal em solo gaúcho até o final do ano. Para 2020, são três confirmados, incluindo Metallicaque se apresenta na Arena em abril

*Zerohora

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