O público claramente gosta de ver os Los Hermanos de volta. No maior show de sua turnê (e talvez de sua carreira), o quarteto carioca se despediu novamente e mostrou que o sentimento é recíproco ao apresentar sua melhor forma desde o hiato de 2007 para 45 mil pessoas em um Allianz Parque esgotado em São Paulo neste sábado (18).

Os fãs acompanharam a banda ao longo de toda a apresentação de quase duas horas, com sucessos de todos os seus quatro discos. “Corre corre”, primeira canção nova lançada em abril após 14 anos sem novidades, foi a única intrusa.

Após quatro anos sem shows, o grupo respondeu à energia de um estádio lotado e se mostrou mais à vontade. Em uma apresentação leve e bem mais espontânea que as automáticas de 2012 e de 2015, os vocalistas Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante ainda seguiram o roteiro à risca, mas pareciam se divertir muito mais.

O maior problema ficou com os telões instalados nas laterais do palco. Pequenos e intercalando a transmissão do show com imagens aleatórias, mostram uma falta de vocação para grandes apresentações em estádios.

Afinal, eles podem ter oferecido boa decoração para quem estava próximo, ainda mais somados ao cenário com luzes de LED atrás da banda, mas deixaram o público mais afastado sem conseguir acompanhar exatamente o que acontecia no palco.

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Montanha-russa

A banda montou mais um repertório que eles mesmos chamam de “montanha-russa”. “A flor”, música de “Bloco do eu sozinho” (2001), animou o público de saída ao abrir o show com os vocais de Camelo e de Amarante.

Mesmo assim, precisou de mais quatro músicas até que acontecesse a primeira interação com a plateia. “É um prazer estar com vocês nessa noite linda de lua cheia”, afirmou Camelo. A chuva dos últimos dias por sorte deu trégua, mas infelizmente ainda assim não era possível confirmar se ele estava certo.

Por volta da sétima canção, “Condicional” (do disco “4”), um arranjo um pouco mais barulhento e estridente mostrou uma bem-vinda vontade de ser um pouco diferente. O público, no entanto, não respondeu tão bem e por um tempo era possível testemunhas alguns grupos conversando.

A dispersão pelo menos durou pouco. “A outra”, de “Ventura”, recuperou a atenção da galera com seu refrão sofrido e ritmado somado a uma bela luz vermelha que iluminou todo o estádio.

Depois disso, a energia guardada explode na sequência de quatro canções do primeiro disco, “Los Hermanos” (1999) com sua velocidade mais hardcore. “Tenha dó”, “Quem sabe” (com direito a Amarante descendo o palco e se jogando em cima do público), “Descoberta” e Anna Júlia” fazem o trabalho de prender de vez a atenção e os olhares dos fãs.

Los Hermanos toca em São Paulo  — Foto: Marcelo Brandt/G1

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Sonha, hermano

Depois de tantos refrões cantados a plenos pulmões por um estádio cheio, a dupla de vocalistas se solta de vez. A já padrão pergunta de quem está em seu primeiro show do Los Hermanos vira brincadeira quando Amarante emenda um “e quem nunca mais vai voltar?”. Pode ter sido combinado, mas não pareceu.

Até porque na sequência os dois fazem passinhos durante “Paquetá”, outra canção do último disco, e parecem novamente aquela banda que estourou como uma das maiores do rock nacional. Não pela desenvoltura propriamente dita, é claro, mas pela diversão demonstrada por seus membros em cima do palco.

O auge chega em “Último romance”. O público quase engole a performance de Amarante, mas o cantor mostra que sua a voz está melhor do nunca.

Além dele, os músicos de apoio dos metais (Bubu no trompete, Mauro Zacharias no trombone e Índio no sax) merecem destaque. Além do excelente trabalho de sempre, na melancólica “Pois é”, momentos antes, eles chegam a roubar a cena por breves segundos.

Los Hermanos toca em São Paulo  — Foto: Marcelo Brandt/G1

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Um abraço coletivo atrás da bateria após “Conversas de botas batidas”, última música antes da pausa do bis, reforça uma união que parecia não existir mais. Talvez seja o sucesso da turnê, talvez seja os anos separados, mas algo definitivamente está diferente.

Neste momento de agradecimento a todos que participaram da produção do show, Camelo cita o tecladista Bruno Medina para resumir a sensação de ver um estádio cantando suas músicas: “Um sonho que a gente nunca imaginou sonhar”.

Cinco minutos depois, o combo matador de “Deixa o verão” e as porradas de “Azedume” e de “Pierrot” encerram de vez o show e a turnê.

É bom ver os Los Hermanos de volta. Melhor ainda seria se esta fosse sua última despedida, e um recomeço de verdade para o quarteto.

Los Hermanos toca em São Paulo  — Foto: Marcelo Brandt/G1

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

Veja o setlist da apresentação:

  • 1. “A flor” (Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, 2001)
  • 2. “Além do que se vê” (Marcelo Camelo, 2003)
  • 3. “Retrato pra Iaiá” (Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo, 2001)
  • 4. “O vencedor” (Marcelo Camelo, 2003)
  • 5. “O vento” (Rodrigo Amarante, 2005)
  • 6. “Todo Carnaval tem seu fim” (Marcelo Camelo, 2001)
  • 7. “Condicional” (Rodrigo Amarante, 2005)
  • 8. “Corre corre” (Marcelo Camelo, 2019)
  • 9. “Primeiro andar” (Rodrigo Amarante, 2005)
  • 10. “A outra” (Marcelo Camelo, 2003)
  • 11. “Morena” (Marcelo Camelo, 2005)
  • 12. “Pois é” (Marcelo Camelo, 2005)
  • 13. “Sentimental” (Rodrigo Amarante, 2001)
  • 14. “Samba a dois’ (Marcelo Camelo, 2003)
  • 15. “Tenha dó” (Marcelo Camelo, 1999)
  • 16. “Quem sabe” (Rodrigo Amarante, 1999)
  • 17. “Descoberta” (Marcelo Camelo, 1999)
  • 18. “Anna Júlia” (Marcelo Camelo, 1999)
  • 19. “O velho e o moço” (Rodrigo Amarante, 2003)
  • 20. “Paquetá” (Rodrigo Amarante, 2005)
  • 21. “Do sétimo andar” (Rodrigo Amarante, 2003)
  • 22. “Último romance” (Rodrigo Amarante, 2003)
  • 23. “De onde vem a calma” (Marcelo Camelo, 2003)
  • 24. “Conversa de botas batidas” (Marcelo Camelo, 2003)

Bis:

  • 25. “Deixa o verão” (Rodrigo Amarante, 2003)
  • 26. “Azedume” (Marcelo Camelo, 1999)
  • 27. “Pierrot” (Marcelo Camelo, 1999)
Los Hermanos toca em São Paulo  — Foto: Marcelo Brandt/G1

Los Hermanos toca em São Paulo — Foto: Marcelo Brandt/G1

*G1

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